segunda-feira, 30 de julho de 2012

sACRIFÍCIO - por Vinícius Linné

Quatro deles mataram Maria Adélia. E o fizeram porque Deus mandou. Não, não há mais gente boa no mundo. Gente que desobedece a Deus. Não há. Em meio à sarça flamejante a voz Dele veio, retumbante: “Que Maria Adélia seja para vós como o corpo e o sangue de Cristo. Tomai todos e comei”.

Tomaram e comeram. A Maria Adélia. 

Os frangalhos do vestido amarelo, os ossos, os músculos mais duros, os nervos, os olhos, os pulmões, as tripas e os cabelos crespos e tingidos de amarelo estão em um monte no canto da garagem. Discutem os quatro sobre o que fazer com aquilo. 

Um deles é pragmático: Precisamos comer tudo. Até o último cabelo. Vocês ouviram Deus... 
Outro é gramático: Mas o Senhor não disse se tínhamos que comer tudo... Quando falou em corpo, eu entendi que era só a carne. 
Os outros dois arrotavam à larga, boca lambuzada de vermelho, sem conseguir engolir mais um dedinho sequer.

2 comentários:

  1. Tenho medo dos gramáticos.
    Ainda prefiro os pragmáticos.

    Seu texto fez com que milhares das minhas sinapses buscassem relações com o exterior da crônica.

    Cada dia mais me convenço que meus textos descansam bem ao lado dos seus.
    Abraço, Vini.

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