quinta-feira, 18 de abril de 2013

alguns PENSAMENTOS ADMITIDOS - por Simone Huck

Para Franco, com amizade.
 
Parou de chover. 
No bar vermelho com azul, as putas retomam seus acentos expositivos.
Há fuligem no ar da cidade. O dia será quente e obsceno. Da janela do décimo andar de um apartamento na Av. 9 de julho, olho todas essas cenas e tenho a impressão de que a cidade não dormiu. 
Insonia coletiva. 
Admito minhas olheiras.

Prédios cinzas. Pedras. Trens grafitados. Vozes ocas. Homens sem sombra. Mulheres sem maquiagem. Gatos flagelados. Flores esburacadas. Todos sonados trafegam em colisão pelas ruas tortas de uma cidade-labirinto. Só as putas conseguiram dormir cinco minutos depois dos poucos orgasmos que tiveram - se é que tiveram. A pele e o sexo têm pressa de dinheiro. A saliva escorre na vontade coletiva do não saber, nem estar. Queríamos tanto que o noticiário de nossas vidas anunciasse HOJE o término desse circo. 
Leio pensamentos coletivos. 
Admito minha vontade.

Na TV, a moça do tempo não tem tempo de viver. Está no olho do furacão e nos braços da tempestade. Daqui, de onde estou, o mundo já morreu mas ainda não sabe. 
Velório coletivo.
Admito que não sei onde foi parar minha alma.

2 comentários:

  1. O olhar individual de quem enxerga o coletivo.
    Ou seria o contrário?
    Bela crônica urbana, quase suja.

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