terça-feira, 3 de setembro de 2013

sOLAR - por Adilma Secundo Alencar.

Há jornais, meu bem, cheios de notícias que não quero ler.  Letras garrafais e interjeições suicidas antecipando meu enjoo de todo o excesso, dentro de mim um tumulto grita, quantos silêncios são necessários nas nossas pausas diárias?
Solar, domingo solar pingando gotas de laranja no vidro de meu copo de café, um copinho vagabundo desses que veem com molho de tomate, meu café quente, primeiro gole dessa manhã escandalosa de primeiro de setembro, volto à cama e vejo sua beleza tão solar como esse domingo que deus fez. Seios nus e plácidos, mãos mansas, unidas segurando um rosto amassado de quem não quer acordar. Nossa casa com poucos móveis e muita festa. Meu alumbramento perdoado diante de sua poesia em carne e água, em flor e mato, sua poesia enervou meu sangue e o céu pintou nuvens para dar amor também aos outros. Pego seu celular que grita o desespero dos relógios e afasto de nosso quarto a ameaça do mundo.
Cílios, pés, pescoço, cabelos, nuca, todo canto onde me encontro é pedaço seu, colo, lágrima e anúncios de felicidade.
O mundo está em guerra e meu bem querer ameaça o tédio e a preguiça, um domingo pode forjar algemas nos nossos desejos. Fico com o silêncio que o cheiro dos seus cabelos alimenta, quando a tarde horizontal e alaranjada me traduz uma inflamação no peito, é seus olhos tristes meu refúgio, minhas mãos, meu delírio e porto. Sou pequeno e o medo quer tomar minha preguiça por desespero, nessa peleja de sertão e cimento é na cama o palco de meu choro, é quando você cresce e um metro e setenta é o  tamanho de minha dúvida de ficar ou partir.
Minha semana vai se abrir em notícias de azaleias contentes, gerânios melancólicos e petúnias espevitadas, porque você veio. Seu organdi lilás é menos um cachecol do que um curativo para meus olhos cansados das revistas.

As crianças nascem cobertas de sangue, já anunciam nossa sina de choro e milagre, vamos milagrar, meu bem, nosso medo também é nascimento. É um milagre que vencendo o nojo das notícias, a dor dos indigentes, a angústia dos doentes à espera do fim, ainda aconteçam encontros grandiosos como esses que explodem em saliva e sexo e deslumbre desses nossos olhos se misturando aos raios dessa manhã tão milagrosa como recém- nascidos estranhando a linguagem já dita, bem dito seja nosso estranhamento.

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