segunda-feira, 18 de novembro de 2013

aS ARCAS DE LAMÚRIAS - por Vinícius Linné

Somos tolos e sentimentais, temos arcas cheias de ouvir lamúrias. Nossas próprias lamúrias. Apesar disso, você se julga melhor. Você se julga feliz. Não me engana. Eu conheço o fundo e o topo dos seus baús. Eu conheço suas queixas e os traços negros que lhe desenham.

A diferença é que eu exploro minhas entranhas sentimentais. Eu as espalho no asfalto e vou chamando gente para ver. Eu as torço e pinto flores feias com o que delas escorre. É o que se tem para pintar. Eu deixo minhas arcas abertas, arejo os panos, penduro nas janelas, exponho e não me envergonho disso. Elas são minhas, as lamúrias. Elas são eu.

Você não. Você as tranca e esconde no porão, como se não fedessem por trás do seu sorriso falso. Você varre os corpos da casa, encerra as tristezas nos armários para que elas não apareçam nas suas fotos. 

Nas suas fotos, nas suas frases, nas suas poesias todas ruins, você é solar. Você reluz, você irradia. Enquanto isso, por dentro, você é lua nova. Você é céu escuro, você é solidão sempre e o pesar de se ser. Mas isso ninguém vê.

Você acha que há delicadeza em esconder as arcas. Não há. Há falsidade. A mesma falsidade brava que você condena em cada um que passa. Eu não escondo. Não escondo porque é o que há para se ver de mim. É o que tenho para dar. É o que entrego a quem passa. Minhas lamúrias podem soar vergonhosas para você. Desculpe. Mas elas soam como canção para quem também as possui e não tem vergonha de confessar: "Hoje eu sou infeliz. Hoje. Você pode ser infeliz comigo? Assim, pelo menos, nossa solidão será menor. Só assim."

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