segunda-feira, 25 de novembro de 2013

rESOLUÇÕES DA INSÔNIA - por Vinícius Linné

Quantas vezes, quantas vezes ele disse que faria tudo diferente, que estaria disponível para a vida que viesse, que sairia mais, conheceria pessoas, cumprimentaria estranhos nas ruas?

Quantas vezes ela prometeu que renasceria, que teria outros olhos, outros ares, outras histórias para poder contar?

Quantas vezes, quantas, você jurou que sorria mais, que diria sins, que não franziria tanto a testa e nem carregaria tanto amargor nas costas?

Quantas vezes ela tentou se convencer de que valia alguma coisa, de que também era alguém, de que merecia ser amada?

Quantas vezes, quantas dúvidas, quantas vozes internas a lhe dizerem que isso era besteira?

Todas as vezes o mesmo. Uma determinação ferrenha que lhes domava o corpo, eriçava os pelos, despia os medos e afastava de vez o sono.

Quantas madrugadas de vidas criadas, mudadas, inventadas? Quantas vezes a determinação eufórica de que, a partir da manhã seguinte, seria tudo diferente? Não sei.

Todas as vezes a mesma manhã seguinte. Acordar cansados da noite mal dormida, exauridos de planos, despertos para o trabalho de sempre, para a constipação de sempre, o gosto amargo de sempre na boca e na alma.

Tudo lama. O ônibus apertado, o relógio ponto quebrado, o computador com a emoção bloqueada. De novo o almoço, outros estranhos, os mesmos medos. A vida mesma. Tudo igual. Quantas vezes o mesmo? Todas. Todas as vezes.

Era preciso não esquecer, nunca mais, de comprar o Rivotril.

Um comentário:

  1. Eu nesse acaso de madrugada passei por aqui, e dou de cara com essa beleza!
    Voltarei mais vezes, e em outros horários.

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