terça-feira, 19 de novembro de 2013

rOSA- por Adilma Secundo Alencar.

Ele não tinha aquela pressa de homem urbano, amava sua esposa com um amor doce e calmo que era como um cheiro de alecrim. Chegando cedo do trabalho de marceneiro, ele lavava a louça, comprava uma cerveja e pensava no vestido de Rosa, era apaixonado por aquele balançar de panos e vontades. O sol se despedia, ora frio, ora quente. Ele, sereno, era um homem rente ao abismo da calma, acendia um cigarro, tirava a camisa e esperava. Tantos desejos esperavam ao seu lado.
Lá fora, depois de sua calçada, o mundo seguia tumultuado, mais motoqueiro acidentado na Avenida Rebouças, mais um atendimento do SAMU, mais uma enfermeira iniciante nervosa diante do sangue, mais um homem com o coração sangrando de amor e abandono, mais uma mulher gozava seu abandono num corpo que não amava, mais um estudante se apaixonava pela professora de história, mais um atendimento tardio e um homem morria, mais um exame positivo e a menina vingava depois de tantas velas à Fátima. Nas igrejas, lágrimas de alegria e de dor, de culpa, medo e angústia. Nos motéis, toalhas, calcinhas e promessas cheirando à verde musgo.
Mas dentro do peito dele, dentro de sua casa, só cabia Rosa

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