terça-feira, 10 de dezembro de 2013

rAIOS AZUIS -por Adilma Secundo Alencar.

Tem gente fazendo pacto de amargura com a vida, enquanto eu escolho uma poesia do Leminski para mostrar para você. Muita gente nesse momento escreve artigos científicos, compra remédios digestivos, enquanto eu separo alguns filmes do Almodóvar pensando se você vai gostar da minha cena preferida. Muitas pessoas andam sozinha pela rua do jeito que eu gosto de andar, eu penso na sua mão pequena que segura a minha. Eu gosto de escolher palavras simples e minhas pra contar uma narrativa corriqueira e quase sempre você ri, porque o cotidiano narrado com riso é humor na certa, Deus é irônico, diz um amigo meu. Há muitas cores cobrindo as pessoas apressadas na avenida já vazia de fim de domingo, mas eu só tinha um gosto azul na boca. Uma tarde pós-chuva descortinou nove anjos laranjas que bailaram ébrios sobre seu gosto de cereja.Tentando dar nome ao que eu quero vivo, afasto a palavra e prolongo o olhar  além do que é óbvio. Deslizo desejo e pele e amanheço menos sono e mais desejo. Ampliaram avenidas, protestaram políticas públicas, anunciaram novas drogas, enquanto eu abria os olhos devagar e só desejava que o dia se abrisse amarelo ou cinza, frio ou quente, mas que se abrisse num sorriso parecido com o seu. Eu não li notícias de jornal, não fui ao banco trocar a senha do cartão, não abri meus e-mails importantes, eu fiquei o dia inteiro tentando escrever um texto azul, mas outras cores vieram e eu fiquei com palavras demais, todas azuis, sem suporte para tanto signo eu deixei seu nome escrito com giz azul dentro de um sol laranja na minha parede.

E esqueci o texto, a tese, os tantos, eu inventei um sol de raios azuis.

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