segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

pRESUMIR - por Vinícius Linné

Quantas coisas você presumiu quando eu sumi?

Você presumiu que eu não voltaria, então apagou as fotos, os traços, os riscos de giz e as manchas dos meus pés nas paredes azuis. Você limpou os armários, arejou o quarto e despejou na pia o resto do perfume meu. Você queimou os papeis, doou os livros e deu meu canário para o cachorro comer.

Você colocou o vestido bonito e saiu e dançou e cantou e voltou para casa já com outro não-eu. Você deitou com ele na cama que era nossa, colocou meu último CD de fossa e disse meu nome baixinho bem na hora H. Depois me dormiu e esqueceu.

Você presumiu que eu arranjei outro alguém, lhe fiz três filhos e comprei um novo canário, dessa vez belga. Tudo em meia hora só. E por isso vingou-se até me rasgar os vestidos e me arrancaria das orelhas os brincos, seu eu não tivesse lhe segurado de vez.

Mas, meu amor, eu só fui ali comprar cigarros!
Não me enganes que tu não fumas.
Eu sei. Eram pra ti.

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