sexta-feira, 27 de junho de 2014

dIPIRONA - Por Vinícius Linné

Nós prometemos muito a ela. Prometemos cuidar das fundações, manter as plantas vivas, regar as samambaias e deixar o café sempre quente. Por um tempo funcionou. Mas somos distraídos demais, acabamos trancados em nossos próprios quartos. Cada um em sua janela, cada um com suas dores e ilusões e amores. Cada um mais mudo que o outro.

Mudos mudamos. E a casa também.

O mofo cresceu, as rachaduras voltaram, as janelas foram quebradas sem que nenhum de nós ousasse trocar os vidros. As samambaias morreram, o café esfriou e a vontade de escrever nas paredes foi sumindo junto com as chaves que perdemos pelos bolsos.

Entre nós, a febre esfriou. E as febres não podem esfriar, não quando são crônicas.

Por isso, um dia nos flagramos na sala, de martelos e tábuas em punhos, ambos com a mesma resolução. Era hora de lacrar janelas e portas, jogar fora cartas e plantas, admitir que sozinhos não era nossa a casa. Era hora de sair dali, seguir cada um o rumo que sua janela mostrava e deixar a casa assim, lacrada, esperando, para o caso de algum dia haver volta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

o Febre CRÔNICA agradece sua leitura e comentário.